A nova ciência do sedentarismo aponta os riscos de ficar parado o dia todo. E isso vale também para malhadores.
Se você trabalha o dia todo no escritório com o bumbum na cadeira, vai correndo fazer exercício no fim do expediente para compensar o tempo que passou sentado e na volta para casa descansa vendo TV, talvez seus dias de consciência tranquila terminem agora. É verdade que o Colégio Americano de Medicina do Esporte e a Organização Mundial da Saúde (OMS) nos afirmam há mais de uma década que 30 min de malhação diária bastariam para a gente viver sem riscos de desenvolver uma doença crônica associada ao sedentarismo. Mas agora uma nova geração de estudos está chegando para abalar essa história, mostrando que, mesmo que você faça exercícios diariamente, vai prejudicar sua saúde se passar o resto do dia sentado, sem fazer nada.
Ao que tudo indica, não adianta mais seguir as recomendações e correr para a academia todo santo dia se, ao sair de lá, você despenca o bumbum numa cadeira ou num sofá e não se mexe mais até a hora de ir para a cama e dormir. Levar uma vida ativa não significa mais apenas malhar, mas incorporar ao dia a dia outras atividades físicas “não oficiais”, como andar até o carro ou ao ponto de ônibus ou descer ou subir as escadas para chegar ao seu apartamento ou escritório. São essas que realmente interessam, dizem os pesquisadores. Se você ainda duvida, veja este exemplo: os números revelados por um estudo da Universidade do Missouri (EUA) mostraram que pessoas que faziam mais exercícios “não oficiais” gastavam mais calorias do que quem corria 75 km por semana – o que não é pouco, diga-se de passagem –, mas praticamente não realizavam outra atividade física ao longo do dia.
No fim do ano passado, um estudo liderado por Grégore Mielke, pesquisador do comportamento sedentário da Universidade Federal de Pelotas (RS), apontou que uma pessoa que segue as recomendações da OMS, de se exercitar por 30 min, cinco vezes por semana, e fica parada o resto do dia tem as mesmas condições de saúde de quem é sedentário, mas movimenta-se o dia todo de um lado para outro. Ou seja, pode ser que seguir as indicações da OMS, mesmo trazendo os benefícios já comprovados à saúde, não baste para reverter os males de não se deslocar a pé e de trabalhar, almoçar, jantar, ver TV e, em alguns casos, até malhar sentado.
Mielke diz que essas novas pesquisas vêm ajudando a repensar o conceito de sedentarismo. Ser sedentário não é mais quem não se exercita “convencionalmente” – não malha na academia, não corre, não faz um esporte –, mas quem se movimenta pouco durante o dia, aí incluídos os movimentos feitos para, entre outros, amarrar o cadarço do tênis, caminhar até o banheiro ou simplesmente ficar de pé para falar ao telefone. Aparentemente, foi a quantidade desse tipo de movimento que diminuiu drasticamente em nossas vidas nas últimas décadas, contribuindo para aumentar cinturas, resistências a insulina e níveis de triglicérides.
Um dos pioneiros nessa área foi o médico James Levine, da Clínica Mayo (EUA), que advertiu que deveríamos aumentar nosso gasto energético ao longo do dia durante as atividades do cotidiano, não apenas naqueles míseros 30 min ou 60 min depois do expediente. Segundo Levine, depois de duas horas de chá de cadeira, os músculos ficam estáticos, o coração bate mais devagar, o colesterol sobe, assim como o risco de desenvolver diabetes tipo 2. Há alguns anos, ele chegou a desenvolver escrivaninhas acopladas a esteiras ergométricas para que as pessoas não precisassem mais trabalhar sentadas. Atualmente, aposta mais nos intervalos regulares durante o expediente.
Estima-se que, cada minuto de comportamento sedentário, substituído por alguma movimentação corporal, aumente o gasto energético em um quilocaloria, em uma pessoa de 72 kg.
Para quem trabalha sentado, os pesquisadores recomendam manter os exercícios no fim do dia e acrescentar “passeios” mais longos pelo escritório, conversas ao vivo (e de pé) em vez de e-mail interno, sempre que possível, e até reuniões ao ar livre, caminhando. “Obviamente, não podemos eliminar a cadeira de nossas vidas. Mas devemos tentar reduzir o máximo possível o tempo que passamos sentados”, diz Peter Katzmarzyk, do Centro de Pesquisas Biomédicas de Pennington (EUA).
Não é difícil encontrar maneiras de conseguir isso. Segundo o Vigitel, uma pesquisa anual sobre os dados de saúde dos brasileiros, cerca de 21% dos adultos entre 18 e 34 anos se deslocam para o trabalho de modo ativo, caminhando ou pedalando. O resto vai sentado. E, no país todo, pelo menos 20% das pessoas passam pelo menos três horas na frente da TV diariamente. Quer dizer, deixar o carro em casa, ficar de pé no ônibus, descer algumas quadras antes para caminhar um pouco ou desenferrujar a bicicleta são medidas mais do que louváveis.
Mesmo no trabalho, sua empresa pode ajudar. Por exemplo, adotando mesas de altura regulável que permitam aos funcionários escolher quantas horas vão passar de pé ou sentados na frente do computador, como já faz o Google em seus escritórios. Há também os miniergômetros feitos para mexer as pernas debaixo da mesa. “Será ótimo se as novas pesquisas justificarem alguma flexibilização no ambiente de trabalho e no sistema de transporte”, Mielke.
Fonte: http://sportlife.terra.com.br/index.asp?codc=2923#
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