segunda-feira, 10 de junho de 2013

Exercício em jejum emagrece?

Ele até libera mais gordura, mas nem sempre emagrece. Entenda aqui!


      O macete não é novo, nem é raro. Entre os halterofilistas,atletas de endurance e entusiastas do fitness, há quem lance mão do jejum para queimar mais gordura corporal ou melhorar o desempenho. Eles acordam de manhã e vão para o treino aeróbio direto, sem café da manhã. Em tese, assim, de estômago vazio, o corpo seria obrigado a usar gordura em vez de açúcar para manter os níveis de energia. 
      Em condições normais, de estômago de cheio, o corpo usaria o glicogênio como fonte principal de energia. Depois de uns 20 min, quando essa glicose disponível começasse a ficar escassa, aí o organismo iria atrás dos estoques de gordura nas imediações das fibras musculares e, assim, poderia manter um esforço moderado por bastante tempo.   De estômago vazio, no entanto, não haveria glicose suficiente para quase nenhum exercício. As células musculares seriam, assim, obrigadas a atacar quase que imediatamente os depósitos de gordura. Parece o paraíso para quem deseja emagrecer, não? Mas um estudo publicado em fevereiro de 2011 no Strenght and Conditioning Journal veio para jogar água nessa festa. 
      Segundo o autor Brad Schoenfeld, que é um fisiculturista avesso a drogas e dá aulas no Lehman College (EUA), há alguns erros nessa teoria. O primeiro diz respeito ao tempo de observação. Diz ele que o metabolismo de gorduras não deve ser medido em questão de horas, como estudos anteriores fizeram, e sim de dias. Ou seja, pode até ser que, durante o treino, o organismo perca mais gorduras, mas não necessariamente ele deixará essa perda por menos nos dias subsequentes. 
      O segundo erro é uma confusão entre lipólise e oxidação de gorduras. Schoenfeld explica que, durante exercícios de intensidade moderada a alta, ocorre uma maior quebra de moléculas de gordura, mas elas não são todas oxidadas. Ou seja, a “queima” não é tão grande assim. E o que acontece com essas moléculas de gordura quebradas e não oxidadas é que elas voltam a ser depositadas no corpo. Além disso, metade dessas moléculas na verdade provém do próprio músculo, de regiões que não interferem na silhueta. Para Schoenfeld, comer antes do exercício traz muito mais vantagens do que não comer. “Estudos mostram que uma quantidade bem maior de calorias é queimada depois do exercício em quem se alimenta antes”, diz. 
      Os achados de Schoenfeld contrastam com os de um estudo publicado poucos meses antes por uma equipe de pesquisadores da Bélgica, segundo o qual o exercício em jejum não só queima mais gordura como também promove adaptações metabólicas que melhoram a performance em esportes de endurance. “Nossos dados demonstram claramente que o treino em jejum é mais efetivo para aumentar a capacidade oxidativa do músculo e a degradação de gordura induzida pelo exercício”, diz Karen Von Proeyen, pesquisadora da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica. 
      Diante de dados conflitantes como esses, os especialistas costumam recomendar que cada um investigue o que funciona melhor no seu caso e observe cuidadosamente, junto com um profissional, se o objetivo está sendo alcançado. Segundo o nutricionista Ricardo Goldfeder, mestre em Ciências do Movimento Humano, as pessoas que comem várias vezes ao dia tendem a tolerar menos o jejum e podem ter mais dificuldade para adotar essa estratégia. “Algumas pessoas regulam isso muito bem, enquanto outras não têm uma resposta tão rápida do fígado (onde parte do glicogênio é armazenado) e acabam entrando em hipoglicemia”, diz Goldfeder. “Se o jejum limitar a intensidade e a duração do exercício, o gasto calórico nessa sessão de treino será menor e, por isso, o jejum não terá sido válido.”

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